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segunda-feira, 4 de julho de 2016

Com estilo noir, HQ nacional conta a história de um fotógrafo na ditadura




As ruas escuras de São Paulo da década de 60 servem como cenário perfeito para criar o clima noir que a graphic novel "Ditadura no Ar - Coração Selvagem" precisa. No enredo, o repórter fotográfico Félix Planta quer descobrir onde sua namorada Lenina está detida, após uma manifestação estudantil ter sido reprimida pelos militares. Ambientado em 1969, durante um dos períodos mais difíceis da história recente do Brasil, o quadrinho traz à tona novamente os horrores da ditadura.
A graphic novel foi relançada em volume único no dia 16 de junho durante a 22ª Fest Comix, em São Paulo. A edição original - já esgotada - foi feita em quatro partes em 2011. A trama policial foi escrita por Raphael Fernandes (da revista "Mad') e ilustrada pelo artista Rafael Vasconcellos. "O grande motivo para esta republicação é que faltam histórias de ficção mostrando os anos de chumbo", diz Fernandes.
"Não podemos nos esquecer das consequências de nos deixarmos levar pelo ódio e a intolerância. A ditadura brasileira não foi nem um pouco branca. Não existe nada de sutil em tortura, morte e ocultação de corpos", lembra.
Para o autor, cuja a obra ganhou o Troféu HQMix em 2013, os quadrinhos brasileiros estão vivendo uma verdadeira efervescência criativa. "Os quadrinhos nacionais precisam ser explorados pelos leitores de quadrinhos em geral. Sabe aquelas pessoas que só leem super-heróis, mangás ou infantis? Precisamos deles lendo nossas histórias para que possamos cada vez mais lidar com o que precisa ser contado", explica.

Embora a graphic novel seja uma obra de ficção, a ambientação é baseada em relatos reais e em uma extensa pesquisa histórica. "É um quadrinho de ficção com os dois pés na realidade", diz Fernandes. O autor destaca que os presos políticos, o exílio, a tortura e o poderio militar servem como pano de fundo dramático para uma trágica história de amor.
"Conversei com pessoas que realmente queriam mudar o Brasil e com outras que gostavam de andar com um livro vermelho debaixo do braço só para flertar com as garotas da faculdade. Muitos dos pontos apresentados na trama foram recontados exatamente como ouvi", destaca o autor.
Como a obra foi produzida de maneira independente, Fernandes revelou que enfrentou dificuldades para distribuir o material. "Eu perdi com o frete todo o lucro que ganharia nas vendas", lembra. "Cometemos alguns erros na época, como produzir de forma seriada e não em um livro fechado. Nesta nova edição, pudemos revisar e trabalhar muitas páginas que não estavam com a qualidade desejada".
Após os prêmios e os reconhecimentos que o quadrinho conquistou, Raphael assinou um contrato com a editora Draco, que entregará a obra nas principais livrarias do Brasil. A graphic novel custará R$ 44,90 e terá 104 páginas coloridas, no formato 17 x 24cm e com capa cartona.

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