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domingo, 3 de junho de 2018

O Último Grito


Para aqueles que não conhecem Thomas Pynchon, hoje é o dia de conhecer esse escritor vencedor do National Book Awards. Para Harold Bloom, um dos maiores críticos literários americanos de todos os tempos, Thomas Pynchon é um dos romancistas canonizáveis de seu tempo. Seu nome é sempre lembrado para o Prêmio Nobel de literatura.

Sua ficção abrange vários temas, como física, filosofia, música pop, cinema, drogas, psicologia e quadrinhos. E dessa absurda miscelânea humorística e ao mesmo tempo poética, o autor explora um gênero próprio, chamado de estética da paranoia. Nunca concedeu entrevistas e nunca se deixou fotografar. Suas fotos conhecidas são de sua juventude.

O livro foi lançado em 2013, ou seja, bem depois dos eventos do 11 de Setembro, portanto não é um livro profético, mas uma interpretação daquele evento. Se você gosta de temas como conspiração global, fantasias apocalípticas, células terroristas, cibernética, balística, órgão ligados a inteligência de governo, leia-se CIA, tragédias jacobinas, mensagens codificadas pelo correio e dois aviões espatifando-se contra as Torres Gêmeas, você vai adorar “O Último Grito”, de Thomas Pynchon. O livro relata o nascimento da era da internet, que coincide com a era do terror. Uma coincidência? Bem, pode até ser, mas o autor deixa no ar algo inquietante, que você, leitor, poderá decidir se é uma teoria da conspiração (zeitgeist) ou apenas uma lógica paranoica.

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Quando o romance começa, no primeiro dia de primavera em 2001, com as primeiras folhas de árvore florescendo em Nova York, o leitor já está em alerta máximo para os eventos do final do verão. A atmosfera – tanto o otimismo idealista sobre a internet como o mundo digital-para-todos e o cinismo sobre como ela pode ser monitorada e monetizada – soa verdadeira. Nas primeiras cinquenta páginas, lemos o primeiro de muitos prenúncios dos eventos que estão por vir. Como, por exemplo, a grande crise das empresas ponto com.

O livro é narrado na terceira pessoa. A protagonista, Maxine Tarnow, trabalha em um pequeno negócio de investigação de fraudes no Upper West Side, perseguindo diferentes tipos de vigarista do baixo escalão. Mas sua licença de investigadora foi retirada há algum tempo, o que acabou sendo positivo porque, com isso, ela está livre para alçar voos maiores, seguindo o seu próprio código de ética, como, por exemplo, carregar uma Beretta em sua bolsa, invadir contas bancárias de pessoas inescrupulosas, sem ter culpa alguma, e aproveitar as suas conexões mais sombrias.

Maxine Tarnow é mãe divorciada e tem dois filhos. Ela professa a fé judaica, é uma mulher corajosa e teimosa, sempre à procura de resultados morais e justos, por métodos de trabalho nem tão morais assim. Esse detalhe sobre a protagonista atravessa todo o romance. Como sua idade não é mostrada, acredito que ela deva ter mais ou menos uns trinta e sete ou oito anos (?). Maxine está criando seus dois filhos, Otis e Ziggy, sem nenhuma ajuda financeira real de seu ex-marido, Horst Loeffler.

Maxine começa a investigar as movimentações suspeitas da Hashslingrz, uma empresa de segurança de computadores, a pedido de seu amigo Reg Despard, um documentarista e ativista que produz filmes provocadores de atividades militares suspeitas no Oriente Médio.

Em um primeiro momento, Maxine não acredita, mas depois ela vai investigar e descobre uma firma administrada por um vilão, o CEO empresário da internet Gabriel Ice. Um homem frio, intensamente secreto e vingativo, mas ele também pode ser algo mais. Maxine começa a acreditar que a bolha das empresas ponto com pode ter sido fabricada. Isso a atrai para um mundo sombrio de hackers, com links para os serviços de segurança e a máfia russa. Podemos ouvir Sinatra cantando: New York! New York!

O primeiro desses lugares escuros é uma empresa ponto.com sinistra chamada Hashslingrz. Enquanto a maioria das empresas de informática despenca no mercado, essa empresa estranhamente parece estar florescendo e, ao que parece, ela desvia secretamente fundos para uma organização simulada no Oriente Médio.

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As referências à cultura pop são fartas, Há uma canção de Britney Spears citada no primeiro capítulo e um karokê onde Steely Dan é citado. Personagens reais e ao mesmo tempo inventadas, mas Pynchon está conduzindo essa história e você estará junto nesse passeio. Todas essas referências citadas em “O Último Grito” é, no fundo, um romance sobre o 11 de Setembro. O autor levanta um espelho para os nossos piores medos, como, por exemplo, a cumplicidade da CIA nos atentados de 11 de Setembro, a  manipulação do mercado de ações através dos insider trading. Todas essas perguntas são deixadas sem respostas.

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Maxine, cínica como ela é, está preocupada em trazer a corrupção à luz dos vulneráveis dos canalhas. Pychon está do lado dela. Ao navegar na Deep Archer, ela descobre que seus filhos, Ziggy e Otis, criaram sua própria cidade lá: uma versão de Nova York pré 11 de Setembro chamada Ziotisópolis. Uma cidade misericordiosa. Em contraste com as artimanhas que consomem a maior parte do romance, “O Último Grito”, de Thomas Pychon, é um livro escrito por um gênio e que merece um lugar de honra na sua estante.




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